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Hidden Europe

Nicky Gardner é co-editora da Hidden Europe, uma coleção online e impressa de materiais escolhidos a dedo que fala das vidas e paisagens europeias. Nicky mora em Berlim e adora conhecer lugares pouco conhecidos da Europa. Ela é co-autora. com Susanne Kries, do livro Europe by Rail: The Definitive Guide (“Conhecendo a Europa por ferrovias: o guia definitivo”, em tradução livre).

Descubra cinco tesouros inexplorados da história europeia

A Europa oferece história e cultura riquíssimas. Hoje, vamos conferir o que esperar daqueles que se aventuram em lugares incomuns em cinco dos meus destinos favoritos. 

1. Trieste e o interior, Itália e Eslovênia 

Se eu precisasse escolher minha cidade favorita para conhecer na Europa, eu optaria por  Trieste. O lugar, que talvez seja a menos italiana de todas as cidades italianas, está situado em uma região estreita de terra plana na ponta do Mar Adriático. Atrás da cidade, as colinas se elevam até um planalto seco de calcário que se estende ao longo da fronteira com a vizinha Eslovênia. 

Eu amo Trieste pelo que é hoje, mas também pela sua História formidável. Durante décadas, foi o principal porto comercial da Dinastia de Habsburgo. Trieste conquistou assim um status especial como um posto avançado do Mar Adriático de natureza mercantil vienense, com uma vida intelectual e cultural vibrante. Para escritores, artistas e poetas, Trieste era uma extensão dos salões da sociedade vienense e era realmente uma Viena à beira-mar. 

Em um dia ideal em Trieste, eu visito cada café, sentando nas mesas onde James Joyce e Italo Svevo conversavam com amigos. Há livrarias por todos os cantos. Para excursões fora da cidade, pego o ferry para Muggia e subo até a fronteira eslovena. Ou tomo o barco ao longo da costa até Sistiana e, em seguida, sigo a trilha do topo do penhasco até Duino, um passeio que trouxe muita inspiração ao poeta Rainer Maria Rilke. 

2. Região do Jura, Suíça e França 

Claro, você deve conhecer os Alpes, mas já considerou visitar a região do  Jura? Este grande arco de colinas oferece paisagens verdes, desfiladeiros magníficos e algumas das melhores opções para trilhas e pesca da Europa. Como muitas das áreas mais fascinantes da Europa, ele atravessa uma fronteira e vem acompanhado de grande dose de história. Eu tendo a preferir o lado suíço do Jura simplesmente porque as conexões de transporte público são muito melhores do que no lado francês, mas toda a visita a este lugar deve incluir excursões para a França de trem, bicicleta ou mesmo a pé. 

O Jura traz algumas surpresas. No século XVIII, a região do Jura desenvolveu-se como um importante centro de relojoaria europeia. Para os agricultores nas colinas, a horologia era inicialmente uma atividade de inverno para complementar o trabalho agrícola de verão. Mas eles rapidamente descobriram que era possível ganhar dinheiro com relógios. O Jura suíço emergiu como um centro vibrante de consciência política, com relojoeiros suíços contribuindo para debates sobre o anarquismo e o socialismo europeus. Não deixe de visitar o Museu Internacional do Relógio, em La Chaux-de-Fonds. Os apreciadores de bons vinhos vão adorar conhecer o Jura francês. Experimente o vin jaune local, um vinho amarelado pálido que leva décadas para amadurecer. 

3. Fronteiras dos Cárpatos, Polônia e Eslováquia 

A área onde o extremo sudeste da Polônia atravessa a fronteira para o nordeste da Eslováquia é uma das minhas regiões favoritas da Europa Central para caminhar nas colinas. É uma paisagem cultural com maravilhosas igrejas em madeira e aldeias que atestam a beleza do material. Para toda a região dos Cárpatos, a madeira é mais do que apenas um material de construção. Ela carrega valores e tradições, ligando as comunidades às suas paisagens locais. 

O rico e variado tecido cultural da vida dos Cárpatos está enraizado em uma história regional que reflete as tradições judaicas e cristãs. Muitas igrejas de madeira são ortodoxas, outras são católicas romanas, enquanto outras são usadas por adeptos da tradição greco-católica ou Uniata. Eu caminhei por dias nesta região e nas trilhas do cume você raramente encontrará alguém. Mas desça para os vales, seja no lado polonês ou eslovaco das colinas, para conhecer aldeias com hotéis simples que oferecem boas acomodações e comida gostosa e saudável. Quando tempos melhores chegarem, os viajantes mais ousados podem querer se aventurar no leste nos Cárpatos ucranianos. 

4. Alsácia, França 

Tão perto do Vale do Reno e, ainda assim, parece outro mundo! Se eu tivesse que escolher minhas áreas favoritas da França, eu estaria inclinada a sugerir a Alsácia. Mas esta é a França com uma reviravolta. Você encontrará madeira e têxteis e um legado de mineração de prata nas montanhas de Vosges, com alguns dos melhores vinhedos da França a leste das colinas. Uma galáxia de restaurantes famosos baseados em uma rica tradição culinária. 

Mas a Alsácia também oferece combustível para a mente. A Alsácia sempre foi rica em grandes ideias. Debates sobre religião e democracia fazem parte do espírito da Alsácia. Os Amish encontraram refúgio em um vale remoto na região montanhosa da Alsácia antes de seguir para o Novo Mundo. O pensamento humanista, uma forte tradição de filantropia e um interesse precoce pela palavra impressa ajudaram a moldar a Alsácia. O primeiro jornal impresso do mundo foi publicado em Estrasburgo em 1605. Quatro séculos depois, Estrasburgo é lar do Parlamento Europeu, representando o papel da Alsácia na afirmação do espírito de liberdade e democracia do continente. Estas são questões para refletir tomando Alsace Riesling ou Gewürztraminer enquanto você explora uma área que combina belas paisagens com forte tradição histórica. 

5. Boêmia e a tradição de spas termais da Europa Central (Europa Central) 

O famoso triângulo de spas da Boêmia é a melhor manifestação na Europa de uma antiga tradição de saúde que moldou os padrões de viagens e turismo europeus por séculos. Os três principais centros são Františkovy Lázně, Mariánské Lázně e Karlovy Vary. Eles são muito diferentes e, se você tiver tempo, recomendo visitá-los na ordem listada acima. 

Seja em busca de saúde, dinheiro ou parceiros, ondas de europeus visitam os spas da Boêmia ou suas contrapartes em outros lugares (como Baden-Baden). Eu amo essas cidades. São lugares deslocados, cada um com sua própria identidade. Na Boêmia, os indícios de grandeza do passado são revestidos com um verniz suave do planejamento central de estilo soviético e da lâmina afiada do capitalismo moderno. São comunidades onde a história e o presente nunca se reconciliam, lugares onde a atmosfera parece um pouco mais densa do que em outras partes da Europa. Quando eu envelhecer, pretendo vagar de um spa para o outro, aproveitando o tempo para absorver a atmosfera de cada um deles. Mais tarde, quando tiver aproveitado o bastante das cidades com spas termais da Boêmia, seguirei para Trieste.