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Dois irmãos fecharam uma viagem para o continente em busca de destilação, criação de esquis e mosaico

Todo mundo que me conhece sabe que eu amo fazer coisas com as mãos. Em casa, os pães que eu preparo são crocantes. Eu construí e instalei todas as prateleiras do meu apartamento. Ano passado, cheguei até a colocar os tijolos do terraço onde estou sentado agora, escrevendo este artigo e tomando uma xícara de café feito com os grãos que eu mesmo torrei. 

Quando a pandemia recuou e foi possível viajar novamente, meu irmão Jim e eu começamos a conversar sobre fazer uma viagem juntos. Há muito tempo queremos visitar a Europa e viajar pelo continente como irmãos, relembrando nossa juventude e pensando em como queremos evoluir em nossas vidas. Não foi surpresa para ninguém, entretanto, quando eu fiz uma proposta: por que não planejamos viajar para cidades menores da Europa onde possamos fazer nossas próprias coisas. Isso foi em uma noite entre uma cerveja e outra. “Vamos explorar a Europa com experiências de aprendizagem”, eu disse. “Aprenderíamos habilidades ligadas às tradições de cada lugar e nos divertiríamos muito!” Jim pensou na minha proposta por um momento e então, cheio de entusiasmo na voz, disse, “Claro, vamos. É uma ótima ideia”.  

Começamos nossa viagem em Eindhoven, uma cidade ao sul dos Países Baixos totalmente livre das hordas de turistas de Amsterdã e, por isso, muito mais divertida. Ao longo de suas avenidas cobertas de folhas há restaurantes com comidas deliciosas, bares interessantes e várias lojinhas com produtos regionais. A cidade também tem uma próspera indústria tecnológica, e é por isso que alguns a chamam de Vale do Silício da Europa. Sem mais enrolação, embora eu tenha muito mais histórias para contar sobre esse lugar encantador! O que nos atraiu para a cidade foi algo especial — destilarias onde podemos aprender a preparar o delicioso e tradicional, porém forte, licor holandês chamado Genebra. Datando ao menos do século XIII, essa bebida com sabor de ervas e bagas de zimbro está na lista de coisas que eu quero experimentar. Mais estimulante que isso foi a chance de preparar a bebida em minhas próprias mãos (você já sabe sobre a minha paixão por experimentar coisas). A destilaria era tudo com que Jim e eu sonhávamos. Mexemos as bagas de zimbro, sentimos seu aroma e vimos enquanto elas davam sabor ao álcool em grandes toneis de cobre. Quando o vapor subiu do maquinário, pudemos sentir aromas familiares: ervas, licor e um toque de pimenta, acredite ou não. Talvez eu estivesse mais empolgado em levar algumas garrafas da nossa bebida artesanal para um coquetel de verão com nossos amigos, totalmente ligada à história e às modernas cidades dos Países Baixos.  

Um homem desfrutando os sabores do licor de barril de cobre
Um homem desfrutando os sabores do licor de barril de cobre

Com o aroma de baga de zimbro ainda nas mãos, Jim e eu fizemos uma viagem rápida rumo ao sul, para a Suíça. Em vez de pegar um avião, decidimos que ir de trem seria mais divertido e sustentável.  Recomendamos bastante a experiência. Não só por ser melhor para o meio ambiente, o que eu mais amei foi poder admirar a mudança de paisagens deslumbrantes durante nossa viagem rumo ao sul. O que realmente me levou a querer visitar esse lugar foram as aulas de construção de esquis. Jim e eu crescemos em um país frio, por isso amamos esquiar. Contudo, nós nunca tínhamos ouvido falar de construir esquis do zero. Nós dois temos conhecimento de carpintaria, por isso parecia a experiência perfeita. Em dois dias aprendemos a aplainar os esquis, modelá-los com perfeição e garantir que eles não ficassem pesados ou leves demais. Iniciamos do básico, escolhendo primeiro a madeira e então começamos a moldá-los. Também usamos várias camadas de madeira para criar a plataforma base de cada esqui e as deixamos descansar durante a noite para que se fortalecessem. Por fim, finalizamos as bordas e as decoramos. Antes de irmos, experimentamos os esquis. Embora eles não fossem tão flexíveis quanto as fibras de vidro com as quais estamos acostumados, foi uma sensação única deslizar pelos declives com algo feito com nossas próprias mãos — um verdadeiro sonho para um adepto do “faça você mesmo” como eu.  

Moldando a camada final do esqui antes de decorá-lo.
Moldando a camada final do esqui antes de decorá-lo.

Depois de dois lugares com clima frio, Jim e eu mal podíamos esperar pela última parada da nossa jornada: Ravenna, Itália. Essa criativa cidade talvez seja mais conhecida por sua história de criação de mosaicos e, quem sabe, tão interessante quanto, pelo novo grupo de jovens artistas que usam técnicas datadas dos anos Antes da Era Comum. Mosaicos sempre me fascinaram. A forma como eles usam pedacinhos de pedra colorida, vidro ou cerâmica para criar uma figura bela e complexa me impressiona há muito tempo pela sua beleza cativante. Ansiosos para nos entregar a essa tradição, Jim e eu nos inscrevemos em um curso de mosaico de um jovem artista chamado Guido, que vinha estudando essa forma de arte antiga e a usando em suas próprias criações modernas. Ele nos recebeu em seu estúdio, um local luminoso repleto de elegantes e surpreendentes obras em mosaico. Pelos três dias seguintes, Guido nos ensinou a montar nossas composições com as peças de cerâmica colorida e então como usar massa para colar tudo e formar uma imagem. Eu escolhi retratar uma paisagem que me remetia à infância, enquanto Jim criou um cenário praiano admirável. Para mim, praticar essa forma de arte tão tátil que mistura história e cultura contemporânea foi uma experiência inesquecível.  

Compondo pequenas peças de mosaico para formar uma imagem.
Compondo pequenas peças de mosaico para formar uma imagem.

Hoje, de volta a Vancouver, Jim e eu ainda lembramos com alegria da nossa aventura na Europa — de vez em quando com um coquetel do nosso Genebra artesanal. Meus esquis estão pendurados na sala de estar e o mosaico com a paisagem está no quarto da minha filha. Espero que sempre que minha filha o veja, ela entenda o poder de viajar e aprender sobre outras culturas. 

Mark (e Jim) Novak, Vancouver, Canadá.

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