Europa: a casa do grande teatro contemporâneo
Assim como muitas pessoas pelo mundo, passei um tempo na escola estudando as antigas tradições teatrais da Europa. As grandes tragédias e comédias que os gregos criaram, e os belos teatros ao ar livre que construíram para encenar essas peças, por muito tempo despertaram minha imaginação durante a minha infância. Jovem adulto, quando finalmente consegui viajar para a Europa, fiquei emocionado ao ver alguns daqueles teatros antigos, com anéis de assentos de pedra erguendo-se diante do palco. Era quase como voltar aos tempos antigos, assistindo The Persians ou Prometheus Bound. No entanto, o mais surpreendente de tudo foi o seguinte: embora adorasse ver as relíquias do passado teatral da Europa, o que mais me encantou foi descobrir o notável teatro contemporâneo que existe em todo o continente. Alguém disse uma vez que o teatro morreu. A isso, respondo com um sonoro não. O que descobri nas cidades europeias foi que essa arte milenar está muito viva e vale a pena ser vista. Além do mais, sendo hoje o Dia Mundial do Teatro, é o momento perfeito para compartilhar algumas das minhas experiências.
Gostaria de começar com fantoches e já sei o que você está pensando: «mas fantoche não é coisa de criança?» Para ser sincero, já cheguei a pensar assim, lembrando dos meus primeiros dias de escola primária. No entanto, na comuna francesa de Charleville-Mézières, a cada ano um evento muito especial acontece: o Festival Mundial de Teatro de Fantoches. Antes que você levante a sobrancelha duvidando, posso garantir que este festival irá surpreendê-lo. Fantoches complexos, artísticos e feitos à mão, design de palco, performances líricas, surpreendentes e emocionais que os titereiros oferecem — não importa. Este festival irá expor você a uma forma de arte diferente de tudo que você já viu. Em anos normais, cerca de 250 trupes de cinco continentes vêm ao Festival Mundial de Teatro de Fantoches e fazem mais de 200 apresentações para cerca de 150.000 espectadores. Os titereiros atuam com técnicas variadas, desde as tradicionais, com fantoches de luva e marionetes, até as contemporâneas, com bonecos controlados por varetas ou até mesmo teatro de sombras. O que estou tentando enfatizar é o seguinte: essas apresentações de fantoches abriram meus olhos para uma dimensão totalmente nova do teatro, e estou confiante de que você terá a mesma experiência.
Você sabia que neste verão o Bregenzer Festspiele, na Áustria, receberá a ópera Rigoletto de Giuseppe Verdi, no maior palco flutuante do mundo? Tá bom, eu te entendo. Como Rigoletto foi escrito em 1851, ele não é exatamente contemporâneo. Mas acredite em mim. A forma como a ópera é encenada é a mais contemporânea possível. Flutuando no topo do belo Lago de Constança, os atores farão uma apresentação para um grande público sentado nas arquibancadas. Quando participei deste festival há alguns anos, a atuação principal era a Flauta Mágica, de Mozart, que é mais uma ópera clássica de muito tempo atrás. Ainda assim, a produção era incrivelmente moderna, especialmente os dois dragões vermelhos gigantes que ficavam nas laterais do palco. Pelas fotos promocionais, Rigoletto não vai decepcionar. Com um palco redondo e uma cabeça de palhaço gigante flutuando acima dele (o palhaço até muda de expressão), a produção promete ser tão inesquecível quanto a que vi. Para fotos desse palco incrível, basta fazer uma busca na internet! Uma observação: se ainda não der para viajar para a Europa neste verão, tenho certeza que a produção do ano que vem será tão impressionante quanto a deste ano.
A terceira experiência teatral que tive na Europa e que me marcou profundamente foi na cidade de Sibiu, no centro da Romênia. Por quase trinta anos, o Festival Internacional de Teatro de Sibiu levou alguns dos melhores artistas do mundo para a Romênia, com direito a dez dias de artes cênicas extraordinárias. No ano em que participei do festival, o tema era Amor, o que atraiu dezenas de milhares de pessoas a esta cidade pitoresca para testemunhar atores de todas as nacionalidades, idades e especialidades se fantasiando e subindo ao palco. O resultado foram as apresentações mais íntimas, expressivas e generosas do teatro atual que eu já vi. Como um bônus, as apresentações não ficaram restritas às paredes do teatro; elas se espalharam pelas ruas! De esquetes dramáticas a atos musicais, este festival transformou Sibiu em um caldeirão de cultura, arte e expressão atuais. Uma das minhas lembranças mais queridas na Romênia foi assistir a uma banda ligada ao festival se apresentar nas ruas de paralelepípedos enquanto eu comia um pedaço de alivenci, uma torta romena tradicional. Apropriadamente, o tema do festival de 2021 é Gerando Esperança Juntos.
Ao relembrar meus dias explorando a cena teatral contemporânea da Europa, um sentimento mais forte brotou em mim: este continente abriga uma linha de frente da vida artística, pessoas que estão moldando a cultura de amanhã. Onde eles compartilham suas criações artísticas? Nas cidades europeias. Outra lição importante: cidades que estão um pouco fora do roteiro tradicional, como Charleville-Mézières, Bregenz ou Sibiu, muitas vezes são onde se pode encontrar joias inesperadas do teatro e arte de todos os tipos. Quando viajar for possível novamente, considere visitar algumas dessas cidades para explorar a arte que você gosta. Por ser uma pessoa #EmBuscaDeCriatividade, foi isso que fiz — e isso fez toda a diferença!
Alison Spencer, Em Busca de Criatividade
Gerente de operações de teatro em Chicago