O café é minha paixão. Não só encontrei alguns dos melhores cafés da Europa, como a cultura do café me levou a fazer novos amigos e a viver novas experiências.
Eu tinha o cenário perfeito: uma mesa de frente para a janela, uma confortável cadeira de madeira envolta em pele de carneiro, uma vista de Gotemburgo sob a chuva e um fumegante café coado. Dentre essas quatro coisas maravilhosas, houve uma que me deixou mais empolgada: o café! Eu tinha escolhido todas elas e o café com muito cuidado. O café era da Etiópia, uma variedade especial que Ava, a proprietária dessa cafeteria, obtém de forma responsável junto a agricultores orgânicos da África Oriental. Eu havia lido sobre o lugar antes de chegar e me senti atraída não só pela dedicação de Ava em alcançar a excelência em café, mas também por seu comprometimento com a sustentabilidade em todo o negócio – desde o fornecimento dos ingredientes até a cultura de trabalho da Suécia. Antes de escolher meu filtro, tive uma conversa maravilhosa com Ava sobre como ela escolhe seus grãos e sobre seu método único de fazer várias delícias com café. O segredo dela? A precisão é importante, portanto, sempre pese o pó antes de preparar o café. Naquela tarde, durante várias hora observei a chuva dançando sobre os prédios baixos de tijolos dessa cidade do sul da Suécia, enquanto tomava meu café, sentindo uma espécie de felicidade única e movida a cafeína.
Para mim, o café é o que mais se aproxima de uma religião. O perfume intenso do café expresso permeia meus sonhos e sem exagero, sonho com um mundo feito de arte de espuma de latte. Com a minha inclinação por essa estimulante bebida, não é de estranhar que eu própria esteja no ramo, em uma das capitais mundiais do café: Los Angeles. Quando decidi que queria explorar a Europa, optei por concentrar minhas viagens em torno do café, especialmente das cafeterias da quarta onda que existem em várias pequenas e criativas cidades, e priorizar a excelência e a busca por fornecedores éticos. Qual era meu objetivo com essas viagens? Acima de tudo, eu queria explorar o que os cafés da Europa estavam fazendo, como eles conseguiam equilibrar séculos de tradição com técnicas modernas. Mas… para que você não pense que eu sou totalmente maluca, também queria fazer outras coisas que não envolvessem apenas o café. Em especial, explorar as pequenas cidades da Europa, onde jovens criativos se reúnem e a vida é um pouco mais lenta do que nas grandes capitais. Cafés e cafeterias, me pareceu, seriam um ótimo fio condutor para uma visita à Europa, uma espécie de guia que me permitiria conhecer pessoas, ouvir sobre eventos locais e aprender um pouco sobre a cultura.

Gotemburgo era a primeira cidade da minha lista. Todas as pessoas apaixonadas por café que conheço, bem como os melhores livros sobre café, listaram essa cidade como sendo um paraíso para esssa deliciosa bebida. Ava, que mencionei no início do texto, foi a primeira proprietária que conheci. Além do ótimo café e da calorosa hospitalidade, ela também me apresentou Axel, um frequentador assíduo do café, que por sua vez me deu excelentes conselhos sobre o que fazer na cidade. Ele sugeriu que eu visitasse Linné, um bairro em ascensão onde jovens artistas haviam se instalado nos últimos anos. Por acaso, havia uma galeria de pop-up lá e ele sugeriu que eu desse uma olhada. Naquela tarde, caminhei por essa área, observando as criações de jovens artistas suecos. Também havia uma galeria com um show de dança ao vivo e música eletrônica tocada por um músico que era conhecido por aqui, mas que ainda não havia se destacado nacionalmente. A última coisa que Axel me disse foi para dar uma olhada em um café a leste do parque Slottsskogen. Lá, tomei um saboroso espresso duplo preparado com grãos do Burundi. Talvez tão bom quanto: soube pelo barista sobre a música ao vivo que tocariam mais tarde naquela noite. Até agora, meu plano de tomar café e aprender sobre o local estava funcionando!

Infelizmente, no entanto, meu tempo em Gotemburgo chegaria ao fim depois de muitos dias de cafés maravilhosos e de muitos novos amigos amantes da bebida. Mas minha viagem ainda não havia terminado! Outra cidade que eu estava morrendo de vontade de visitar seguindo o meu fio condutor do café era Graz, na Áustria. Embora Graz tenha um maravilhoso histórico de tradicionais cafés austríacos, o que eu tinha mais vontade de conhecer eram os cafés com especialidades contemporâneas. Abrigados em vários pontos da cidade, jovens empresários do ramo do café misturam arte, cultura e amizade para criar maravilhosas comunidades em torno dele. Meu primeiro destino “cafeeiro” ficava na parte nordeste da cidade, não muito longe do Stadtpark. O proprietário, que logo descobri ser um jovem chamado Jan, foi gentil o suficiente para me mostrar sua torrefação. Através de uma porta atrás da área principal do café, fiquei animada ao ver sacos e mais sacos de grãos de café verde e um lote de grãos sendo torrados naquele exato momento. Durante vinte minutos, Jan e eu trocamos dicas e informações sobre torrefação, fornecedores responsáveis e as melhores máquinas para moer o grão. Como acabamos descobrindo, tínhamos até mesmo alguns colegas em comum. Antes de voltar para o salão principal do café, Jan inclusive me convidou para um pequeno encontro de profissionais do café que aconteceria mais tarde naquela mesma noite. Eu ainda tinha algumas horas antes disso, e as passei bebendo um delicioso flat white feito pelo colega de Jan e observando as pessoas enquanto estava sentada no terraço. Mais tarde naquela noite, passei quatro horas bebendo cerveja, comendo entradinhas locais e conversando sobre café. Foi maravilhoso!

Quando penso no tempo que passei na Europa, é claro que o café se destaca como uma lembrança incrível. Eu adorava explorar os novos cafés e provar as melhores misturas que encontrava neles. Mas a parte mais importante das minhas viagens foram as pessoas que conheci graças ao café. Ava e Gotemburgo foram encantadoras e hospitaleiras. Jan, de Graz, foi aberto e acolhedor. Com a cultura contemporânea do café abrindo meu caminho pela Europa, fiz novos amigos, vivi experiências locais e realmente descobri as duas cidades que visitei. Aqui vai a minha dica para você: talvez o café não seja a sua praia, mas existem inúmeras “obsessões” que você pode usar para se conectar com os lugares que visita. Pode ser que você adore cerveja artesanal, escultura contemporânea, procurar alimentos ou cosplay – comunidades de pessoas que também adoram essas coisas estão esperando por você na Europa.