Subcribe

Minha exploração giratória na Europa Central

Minhas primeiras lembranças em Brooklyn são das grandes reuniões familiares. No Natal, Babcia Helena (vovó), Dziadek Czesław (vovô) e uma série de tias, tios e primos enchiam nosso apartamento de Greenpoint se sentando à mesa de jantar para desfrutar de doze pratos natalícios: borscht, carpa e nove outras delícias culinárias. No final da refeição, depois de todos saciados e satisfeitos, Dziadek Czesław se sentava na cadeira de baloiço junto à aparelhagem e, com um digestivo na mão, ouvia um disco das suas mazurkas favoritas do seu compositor favorito: Chopin. Dando um gole em seu digestivo na sala escura iluminada apenas pelo brilho das luzes de Natal, me dizia, a sua netinha americana, que era a música da sua terra. “Nunca se esqueça,” dizia.

Embora Dziadek Czesławonly tenha vivido mais cinco anos, nunca esqueci suas palavras. Ainda que nunca tenha sido pianista com dedos suficientemente ágeis para fazer justiça à emoção e nuance de Chopin, a conexão com minhas raízes surgiu da dança. Quando minha infância terminava e começava minha adolescência, mergulhei intensamente na dança. Como nasci em Brooklyn, grande parte da dança não tinha nada a ver com a tradição eslava. Dançava ballet, jazz, danças de salão e clássicas. Mas algures, no fundo do meu coração, guardava as palavras de Dziadek Czesław. Sabia que um dia, iria viajar para a Europa Central para me reconectar com esta cultura a que meu avô era tão dedicado, uma cultura que também era minha, embora tenha crescido bem longe dela.

Para minha delícia, esse dia chegou no final dos meus vinte anos. Ouvi um amigo checo falar do Festival Internacional de Danças e Músicas, também conhecido como “Autumn Tale”que ocorre anualmente em Praga e Budapeste. Com este evento de base, planejei uma viagem pela região que me iria reunir com esta cultura que não fazia e ao mesmo tempo fazia parte de minha história.

Young women in traditional costumes perform folklore dances in Cesky Krumlov.
Jovens mulheres em trajes tradicionais apresentam danças folclóricas em Cesky Krumlov.

Embora o Autumn Tale seja um evento em duas cidades, a segunda parte tem lugar em Budapeste: Estava pronta para viajar até à fronteira de onde era originária minha família: Polônia. Após uma viagem de comboio que me fez atravessar várias paisagens fantásticas. A maioria da minha família é originária da área perto de Wrocław, que fica no sudoeste da Polônia, pelo que foi aí que minha viagem de comboio terminou —uma espantosa cidade de que a maioria dos visitantes se esquece. Tal como em Praga, perdi algum tempo a explorar e respirar o ar tal como meus antepassados. Percorri os empedrados antigos, bebi um café intenso e comi panquecas de batata abafadas com goulash quase até rebentar. Cada visão, cada pedaço de comida me relembravam minha Babcia Helena e DziadekCzesław. E essas memórias relembravam-me firmemente a minha missão: descobrir as tradições folclóricas da dança da região. Toda a seção do sul da Polônia tem a tradição da dança. Sempre adorei ver vídeos de músicas dos planaltos, que muitas vezes envolvem dança. Queria descobrir algo específico, algo verdadeiramente polonês: a mazurka. Esta dança acelerada em compasso ternário sempre me fascinou. Esse fascínio, sem dúvida, surge da influência do Dziadek Czesław que costumava ouvir as muitas e incríveis mazurkas de Chopin pela noite dentro. Por vezes, ficava tão comovido com a música que lhe surgiam lágrimas nos olhos. Queria compreender o poder dessa forma.

Muito antes de ter chegado a Wrocław, procurei as experiências perfeitas. Primeiro, queria por a mão, ou mais precisamente, os pés, nas danças. Como mulher com longo historial de dança, sabia que esta conexão tangível com as minhas raízes se revelaria significativa. Por isso, na manhã após o meu dia dedicado ao turismo, acordei cedo e fui até um estúdio de dança. Nas quatro horas seguintes, aprendi uma das mais essenciais danças polonesas: a mazurka.

Polish folklore clothing during a festival.
Trajes folclóricos poloneses durante um festival.

O último item da minha lista era ver danças polonesas tradicionais dançadas pelos mestres. Na noite seguinte, estava planeado um espetáculo essencialmente de mazurkas e eu tinha um bilhete. Quando encontrei meu lugar, admirei o palco. O cenário imitava uma aldeia polonesa, com uma igreja ao longe e casas de colmo de cada lado de uma estrada. Depois quarenta dançarinos entraram em palco, metade homens, metade mulheres. Os seus trajes eram incríveis. As mulheres vestiam vestidos compridos, alguns brancos, outros vermelhos, mas todos com decorações bordadas à mão. Os homens vestiam calças azuis, casacos com borlas douradas e chapéus com penas compridas salientes. Quando a música começou e estes homens e mulheres começaram a dança, senti uma série de emoções esmagadoras. Tinha concluído o círculo, desde os primeiros anos da minha vida, que ouvia aquelas melodias com meu avô, até aquele momento em que finalmente me senti reconectada com um país e uma cultura que sempre tinha desejado conhecer, mas nunca tinha experienciado.

Karolina Nowak. Brooklyn, Nova Iorque

O que considerar antes de viajar

load more

Dicas para considerar enquanto viaja